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Alessandra Cattani

Ansiedade


Há uma palavra que vem sendo replicada como uma resposta quase que fatídica e pontual para tudo que não conseguimos olhar dentro de nós: ansiedade.

Não é a realidade que nos deixa ansiosos, é o que estamos pensando, interpretando sobre a realidade. Parece-me que se tornou socialmente aceitável as pessoas dizerem que são ansiosas ou que a ansiedade delas é a justificativa para muitas questões que deveriam ir além.

Frequentemente, estamos elaborando um esquema complexo para fugir da emoção gerada pelo pensamento. Observe que a ansiedade é o medo, a adrenalina, a vergonha ou qualquer sentimento secundário, que quando ativa o córtex frontal (a consciência) num chamado quase que divino para lutar ou fugir, não sabemos para onde ir e pensamos em controle. Daí a pergunta que muito ouço no consultório: “como controlar minha ansiedade?”

Será que estamos despreparados para lidar com nosso medo? Somos frutos de uma geração de cesarianas, que nos atesta a nossa incapacidade de vir ao mundo. Caracterizamos a nossa habilidade de enfrentamento dessa forma. Na cesariana, a medicina nos diz “você vai ter um parto sozinha?”

Absorvemos essas imposições e crescemos com a incapacidade de ser só, com a falta do autoamor e a impotência diante dos nossos medos. Assim, sentimos dificuldades em restabelecer e reconfigurar nossos sistemas emocionais.

Já se questionou, por exemplo, o que faz você parar diante do medo? Esse o quê que acontece é o que experimentamos internamente e isso é uma questão de sentimentos e pensamentos, é como lidamos com a frustração.

Geralmente aprendemos a viver evitando a dor, evitando a morte. O que me parece ser um paradoxo. Entendendo que a única certeza que temos é que vamos morrer. Então por que viver evitando a morte?

Talvez lidar com a nossa ansiedade seja muito mais um processo de ficar do que de controlar ou anestesiar. Você já ficou para ver o que acontece depois?

Mas diante da possibilidade de lutar ou fugir, a escolha quase sempre é fugir. Tornar catastrófico o fato de sofrer. Como se não pudéssemos nos machucar, nos cortar. Outro grande paradoxo para um corpo, refinadamente preparado, com habilidades biológicas para cicatrizar e se defender.

Poderíamos considerar o corpo a parte visível da mente e a mente, a parte invisível do corpo. Por isso que “quanto maior é a armadura, mais frágil é o ser que habita”. Quando construímos armaduras cada vez maiores, automaticamente fragilizamos a nossa capacidade de ficar, de ser regenerar. Vivendo, assim, sob o pânico da não presença e da dor da projeção daquilo que está na iminência de acontecer.

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